domingo, 31 de março de 2024

GT DO CICLO DE DIÁLOGOS SOBRE PATRIMÔNIO CULTURAL E AÇÕES CLIMÁTICAS

"Representantes do IAB-MS participam do GT do Ciclo de Diálogos sobre Patrimônio Cultural e Ações Climáticas, promovido pelo IPHAN, através do Departamento de Articulação, Fomento e Educação e o ICOMOS, Conselho Internacional de Monumentos e Sítios.

p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2.0cm;">O evento intitulado “Diálogos sobre Patrimônio Cultural e Mudanças Climáticas" Etapa Pantanal, está previsto para acontecer durante o ano de 2024, através de seis reuniões presenciais, cada uma com três dias de duração, contemplando macros bioma do país, onde serão realizadas palestras e oficinas sobre temas específicos que irão compor o plano final:

 

·       indicadores de impacto;

·       riscos climáticos;

·       gestão de riscos;

·       plano de ação;

·       sustentabilidade;

·       normatização.

 

 Entre os eventos presenciais serão realizadas consultas públicas e grupos de trabalhos com o objeto de aprofundamento dos temas.  

O primeiro encontro abordou temas como o cenário de Patrimônio Cultural Da Região do Pantanal e os Principais Efeitos Das Mudanças Climáticas. Contou com a participação de representantes de povos, grupos e comunidades tradicionais da região do Pantanal.

 

 Mais informações :

https://www.gov.br/iphan/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/programas/ciclo-de-dialogos-patrimonio-cultural-e-acoes-climaticas

 

terça-feira, 26 de março de 2024

OBJETIVOS ODS


 

Quais são os ODS? 

 ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são um conjunto de 17 metas globais, sendo:

ods1

Erradicação da Pobreza: erradicar a pobreza em todas as suas formas. Isso significa garantir que ninguém passe fome, todos tenham acesso a uma educação de qualidade e ninguém seja abandonado.

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Fome Zero e Agricultura Sustentável: garantir a segurança alimentar, acabando com a fome e promovendo sistemas alimentares sustentáveis.

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Saúde e Bem-Estar: busca garantir uma vida saudável e promover o bem-estar para todas as idades. Isso inclui acesso universal aos serviços de saúde.

ods4

Educação de Qualidade: defende a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, promovendo oportunidades de aprendizado ao longo da vida.

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Igualdade de Gênero: visa alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.

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Água Potável e Saneamento: busca garantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para todos.

ods7

Energia Limpa e Acessível: visa assegurar o acesso a fontes de energia acessíveis, confiáveis, sustentáveis e modernas para todos.

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Trabalho Decente e Crescimento Econômico: promove o crescimento econômico sustentável, o emprego pleno e produtivo, e o trabalho decente para todos.

ods9

Indústria, Inovação e Infraestrutura: incentiva a construção de infraestruturas resilientes, a promoção da industrialização inclusiva e sustentável, e a fomentação da inovação.

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Redução das Desigualdades: busca reduzir a desigualdade dentro e entre países.

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Cidades e Comunidades Sustentáveis: visa tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.

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Consumo e Produção Responsáveis: promove o consumo e a produção responsáveis, incluindo o uso eficiente de recursos naturais.

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Ação Contra a Mudança Global do Clima: trata da ação climática, incluindo medidas para combater as mudanças climáticas e seus impactos.

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Vida na Água: visa conservar e utilizar de forma sustentável os oceanos, mares e recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável.

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Vida Terrestre: busca proteger, restaurar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres.

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Paz, Justiça e Instituições Eficazes: defende a promoção de sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, garantindo o acesso à justiça para todos.

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Parcerias e Meios de Implementação: é sobre o fortalecimento dos meios de implementação e revitalização da parceria global para o desenvolvimento sustentável.


sábado, 23 de março de 2024

ARQUITETAS MULHERES QUE CONTRIBUIRAM COM SEUS TRABALHOS E PRODUÇÕES

 


  Mirthes dos Santos Pinto 

No constante vai e vem de quem passa pela cidade de São Paulo, é possível que você já tenha percebido o típico grafismo que se repete em diversas calçadas. A clássica padronagem por trás dos módulos que conformam graficamente o mapa do estado de São Paulo foi criado em 1966 pela arquiteta e artista Mirthes dos Santos Pinto. Tudo começou quando o antigo prefeito, João Vicente Faria Lima, lançou na década de 1960 um concurso para o desenho do novo calçamento da cidade. Mirthes, que na época trabalhava como desenhista da Secretaria de Obras da Prefeitura de São Paulo, criou um mapa estilizado do Estado de São Paulo, a partir de módulos quadrados em peças geométricas brancas e pretas, que se alternavam, ora em cor sólida, ora pintada com a variação pela diagonal da peça, criando um padrão.

Referências Bibliográficas:
FOLHA. Criadora do 'piso paulista' diz que nunca recebeu 1 centavo pelo desenho. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=BLGKXZUrfnQ>. Acesso em: 14 set 2018.



Carmen Velasco Portinho 

(Corumbá, 26 de janeiro de 1903 — Rio de Janeiro, 25 de julho de 2001) foi uma engenheira, urbanista e feminista brasileira. Em 1919, lutou junto de Bertha Lutz e outras mulheres pelo direito ao voto. Foi vice-presidente da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e uma das cofundadoras. Terceira mulher a se graduar em engenharia pela Escola Politécnica da Universidade do Brasil, foi a primeira mulher a ganhar o título de urbanista

Nascida em Corumbá, em 1903, primogênita de nove irmãos, era filha de Francisco Sertório Portinho, gaúcho, e de Maria Velasco, boliviana. Mudou-se ainda bastante jovem, em 1911, para o Rio de Janeiro, capital federal na época, onde logo envolveu-se aos movimentos feministas, junto de Bertha Lutz, pelo direito das mulheres ao voto. Nas campanhas das décadas de 1920 e 1930 por mais cidadania para as mulheres, lutou incansavelmente pela igualdade entre homens e mulheres. Era ativista pela educação de mulheres e pela valorização do trabalho feminino fora da esfera doméstica. Graduou-se em 1925 na Escola Politécnica da antiga Universidade do Brasil, hoje a Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Em 1926, assim que se formou, foi nomeada engenheira-auxiliar pelo então prefeito do Distrito Federal Alaor Prata e assim Carmem ingressou no quadro de engenheiros da Diretoria de Obras e Viação da Prefeitura da Capital Federal. Foi professora do Colégio Pedro II, o que foi um escândalo para a época, já que este era um internato masculino. O ministro da justiça tentou interferir em sua nomeação para o colégio, mas Carmem permaneceu lecionando por mais três anos antes de se demitir da cátedra. Devido ao machismo dentro da Diretoria de Viação e Obras da prefeitura da parte de colegas que questionavam sua competência e conhecimento, Carmem foi desafiada diversas vezes no trabalho. Sua primeira tarefa na diretoria foi a de vistoriar um para-raios instalado no alto do antigo edifício da prefeitura, o que seus colegas acreditavam que ela não superaria. Carmem, no entanto, cumpriu a tarefa porque tinha treinamento em alpinismo, tendo escalado todos os morros da cidade do Rio de Janeiro quando ainda era estudante.

Carmem enfrentou outras dificuldades na carreira por ser mulher. As promoções dentro do departamento eram indicadas e não eram por merecimento. Na época, o presidente Washington Luiz fazia uma audiência pública para ouvir queixas e pedidos de funcionários e cidadãos e Carmem decidiu ir diretamente a ele para se apresentar. Carmem conseguiu sua promoção e ainda naquela década concluiu o primeiro curso de urbanismo do país. Conseguiu uma bolsa do Conselho Britânico para estagiar em comissões de reconstrução e remodelação das cidades inglesas destruídas pela guerra para complementar seus estudos em urbanismo. Sua experiência no exterior a fez sugerir ao então prefeito do Rio de Janeiro a criação de um Departamento de Habitação Popular para sanar a falta de moradas populares, conceito introduzido por Carmen.

Na década de 1950, Carmen, então diretora do Departamento de Habitação Popular, propôs a construção do conjunto residencial ‘Pedregulho’, no bairro de São Cristóvão, cujo projeto arquitetônico ficou sob a responsabilidade de seu marido, Afonso Eduardo Reidy. A idealização e construção dos conjuntos habitacionais deu-lhe projeção nacional e internacional, tornando-a uma engenheira de renome. No entanto, com a ascensão do jornalista Carlos Lacerda ao governo da Guanabara em 1962, Carmen pediu sua aposentadoria devido a divergências políticas irreconciliáveis com Lacerda.

Mesmo fora da esfera pública, Carmen continuou trabalhando, porém pela iniciativa privada. Assumiu a construção do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e em 1963 tornou-se diretora da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), a convite do governador da Guanabara, Francisco Negrão de Lima. A ESDI, experiência pioneira no país e primeira escola de desenho industrial da América Latina, havia sido criada em 1962 pelo então governador Carlos Lacerda. Mesmo no exterior, existiam poucas escolas de renome. Carmen dirigiu a ESDI por 20 anos.

Em 1987, Carmen foi homenageada pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) por sua luta pelos direitos das mulheres. Ela e outras mulheres entregaram ao então presidente da Câmara dos Deputados, Ulisses Guimarães, a Carta das Mulheres aos Constituintes, que fazia várias reivindicações para as mulheres para a nova Constituição.

Referência:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Carmen_Portinho





Lina Bo Bardi (1914-1992) 

Nascida na Itália, Lina se mudou para o Brasil em 1946 e é considerada uma das arquitetas mais importantes da história do país. Dentre seus projetos notáveis está o Museu de Arte de São Paulo (MASP), um dos ícones da arquitetura moderna brasileira, que é suspenso por pilares de concreto, dando a impressão de flutuar no ar. Localizado no coração de São Paulo, na Avenida Paulista, hoje, o MASP é um museu privado sem fins lucrativos e foi o primeiro museu moderno no país. Além de seu trabalho em arquitetura, Bardi também atuou em outras áreas do design, incluindo móveis e cenografia. Ao longo dos anos, Lina conquistou seu lugar e se tornou uma das principais mulheres na arquitetura, deixando não apenas seus projetos geniais, mas também um legado que continua a influenciar a arquitetura brasileira e internacional.

https://www.mobly.com.br/blog/inspiracoes/mulheres-na-arquitetura/

2. Marion Mahony Griffin (14 de fevereiro de 1871 – 10 de agosto de 1961) 

Primeira funcionária de Frank Lloyd Wright, Marion Mahony Griffin foi uma das primeiras arquitetas licenciadas do mundo. Ela estudou arquitetura no MIT e se graduou em 1894. Um ano depois, Mahony Grif... 

Durante seu tempo com o arquiteto, Mahony Griffin projetou vidros com chumbo, móveis, luminárias, murais e mosaicos para muitas de suas casas. Ela era conhecida por sua inteligência, risada alta e rec... 

Quando Wright se mudou para a Europa em 1909, ele se ofereceu para deixar suas encomendas de estúdio para Mahony Griffin. Ela recusou, mas mais tarde foi contratada pelo sucessor do arquiteto e recebe... 

Leia mais em: https://casa.abril.com.br/arquitetura/8-mulheres-arquitetas-historia

quarta-feira, 20 de março de 2024

Corredor bioceanico

Mapa do corredor bioceanico planejado.


                     O corredor bioceanico é um ambicioso projeto de engenharia em desenvolvimento englobando alguns países do Mercosul (Brasil, Paraguai, Argentina e Chile). O intuito desta obra é criar uma autovia eficiente que conecte por terra os oceanos Atlântico (desde o porto de Santos, no Brasil) e Pacífico (até o porto de Antofagasta, no Chile). Como parte dos planos da Iniciativa para a Integração Regional Sul-Americana, existem projetos já antigos com a ideia de construir uma ferrovia internacional de função semelhante.

                  O conceito inicial de criar um sistema de integração sul-americano que permitisse acesso a ambos os oceanos que banham o continente foi uma sugestão do governo Boliviano, em 2013. Tanto a Bolívia quanto o Paraguai são países completamente continentais, sem acesso ao mar. A fim de proporcionar maior escoamento de produção e permitir uma importação mais eficiente, a ideia era permitir que ambos os países possuíssem rotas de acesso direto aos principais portos sul-americanos. Buscando financiamento do governo chinês, o plano original incluía a extensão do corredor até o Peru. A primeira expedição do trajeto chegou a ser realizada, contudo, desde as fases mais iniciais, discussões políticas entraram em cena. A instabilidade política da Bolívia e a vitória de um governo com ideologia conservadora no Brasil causaram profundas repercussões no design do projeto.  

Em 2017 houve a segunda delineação provisória da rota de integração latino-americana, que não inclui mais a Bolívia. Com início em Campo Grande (capital do Mato Grosso do sul) e termino na cidade portuária de Antofagasta no Chile, esta primeira etapa deve criar uma rodovia de mais de 2400km de extensão. Algumas obras chave desta primeira etapa só tem conclusão prevista para 2022. Elas incluem a construção de uma ponte entre as cidades de Porto Murtinho e Carmelo Peralta (feita em parceria pelo Brasil e Paraguai), a pavimentação de uma grande extensão de estradas de terra que atravessam o Paraguai e a duplicação e ampliação da rodovia brasileira BR-267. 

 Com a reestruturação do projeto, os maiores beneficiados pelo corredor bioceânico serão o Brasil e o Chile. Isto porque a obra deve agilizar as exportações de grãos e carne produzidos nos estados do Centro-Oeste brasileiro para a Ásia (principalmente China e Japão). Além disso, os portos chilenos passarão a receber estas cargas que originalmente atravessavam o Brasil e eram levadas ao porto de Santos, com encargos de exportação mais elevados. O projeto de conexão entre os países do cone sul da América também possui um forte apelo turístico. 

O projeto de conexão entre os países do cone sul da América também possui um forte apelo turístico. A rota irá permitir uma viagem única por paisagens exuberantes e diversas, ligando o Pantanal brasileiro às Cordilheiras dos Andes e ao deserto do Atacama. Por um lado, um bioma completamente interdependente da água e por outro um ecossistema adaptado a aridez.

Referências:

Leiva, D., 2020. BRI and railways in Latin America: how important are domestic politics?. Asian Education and Development Studies.

Redo, D., 2012. Mapping land-use and land-cover change along Bolivia's Corredor Bioceánico with CBERS and the Landsat series: 1975–2008. International Journal of Remote Sensing33(6), pp.1881-1904.

da Silva, R.F., Kawano, B.R., de Vargas Mores, G. and Blois, H.D., 2011. Exportação da soja brasileira: será o corredor bioceânico uma alternativa para o seu escoamento?. Revista Teoria e Evidência Econômica17(36).

http://www.salta.gov.ar/prensa/noticias/la-reunion-del-corredor-bioceanico-vial-campo-grande-norte-de-chile-se-realizara-en-salta-y-jujuy/57706


terça-feira, 12 de março de 2024

Gabriela de Matos fala da conexão entre arquitetura, cultura e política







A arquiteta e urbanista Gabriela de Matos, Conselheira Superior do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e premiada com o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza de 2023, foi uma das participantes de destaque na IV Conferência Nacional de Cultura, que terminou nesta sexta-feira, 8 de março, em Brasília, sob o tema “Direito à Cultura e Democracia”. Integrante da mesa de abertura da setorial de Arquitetura e Urbanismo, defendeu a valorização da arquitetura e dos saberes populares e ancestrais como elementos fundamentais da identidade brasileira. 
 Nesta entrevista, Gabriela aborda a falta de reconhecimento, no Brasil, da arquitetura como expressão cultural; fala da criação de um instituto de pesquisa sobre arquitetura afro-brasileira e das contribuições dos arquitetos afrodescendentes para a preservação dos saberes populares e ancestrais; destaca a invisibilidade das arquitetas negras no mercado nacional; e defende a igualdade de oportunidades e o reconhecimento para todas as vozes na profissão.
 A arquiteta também compartilha suas reflexões sobre a repercussão da premiação em Veneza, onde recebeu o Leão de Ouro de Melhor Participação Nacional em 2023, na 18ª Bienal de Arquitetura, pelo Pavilhão do Brasil, uma obra em colaboração curatorial com o arquiteto Paulo Tavares.

 Considerando sua experiência com o projeto Arquitetas Negras e a fundação do Instituto de Fomento à Arquitetura Afro-brasileira, como você vê o papel da arquitetura, pensada como expressão cultural e linguagem, especialmente em um contexto onde a diversidade e a inclusão são urgentes e essenciais?

 Gabriela de Matos: 
O projeto Arquitetas Negras surgiu não apenas pela necessidade de ter dados e mapeamento, mas também pela compreensão de que, como diz Lélia Gonzalez, sem dados não podemos abordar as questões com seriedade nem criar políticas públicas. Portanto, a única coisa que pensei que poderia fazer sozinha no projeto Arquitetas Negras era o mapeamento, já que ninguém poderia me impedir de criar um formulário e disponibilizá-lo para as pessoas responderem. A atividade acabou fomentando outra situação, já que as pessoas poderiam escrever seus relatos ali. Passei noites lendo esses relatos e refletindo sobre as melhores formas de lidar com cada situação. Isso foi em 2018, quando já tinha experiência em projetos de exposições de arte e estava envolvida nessa dimensão artística. Acredito, e continuo acreditando, que a arte é uma excelente forma de comunicar questões sérias. Então, após realizar esse mapeamento, comecei a refletir sobre as conexões que poderiam ser estabelecidas com outras arquitetas negras. 
A partir dessas conexões, surgiram novas ideias e ações. Essas conexões se interligam porque o Arquitetas Negras é uma rede vasta, que não se resume a mim. O que está sob minha responsabilidade é o projeto Arquitetas Negras, pois quando ele começou, não tinha a estrutura de um instituto, era uma iniciativa. 
Esse projeto acabou orientando meu mestrado, onde percebi que não poderia abordar apenas a invisibilidade das mulheres negras na arquitetura sem discutir a invisibilidade da arquitetura afro-brasileira no contexto arquitetônico nacional.
 Nós, arquitetas negras, fazemos parte desse processo de invisibilização e violência, mas não somos todo o cenário. Essa invisibilidade remonta aos primórdios da arquitetura negra no Brasil, que foi construída a partir da diáspora e do conhecimento trazido por ela. Portanto, se no Brasil estamos envolvidos na arquitetura há mais de 500 anos, na África essa tradição já existia há muito mais tempo. 
A história não começa apenas aqui no Brasil. 

 Que iniciativas ou estratégias vocês têm em mente para as questões relacionadas ao ambiente construído, como as mudanças climáticas, a desigualdade social e a invisibilidade da arquitetura afro-brasileira no país?

Gabriela de Matos: No Instituto de Fomento à Arquitetura Afro-brasileira, nosso objetivo é criar ações que abrangem desde residências mais práticas até residências mais conceituais e de ideias. Isso é especialmente importante porque a arquitetura afro-brasileira tem ainda menos oportunidades de se manifestar nesse contexto. 
Depois de cinco anos trabalhando no projeto Arquitetas Negras, conversando e entrevistando profissionais da área e sendo uma arquiteta negra no mercado, percebo que muitas vezes precisamos esperar por um cliente com uma mente mais aberta para considerar outras propostas. A simples presença de um arquiteto negro não garante que ele produzirá uma arquitetura afro-brasileira nos moldes modificados e reinventados pelos terreiros, quilombos e outras influências culturais do Brasil. Então, nosso objetivo é criar condições para que essa arquitetura afro-brasileira exista, seja coesa e tenha contornos. Afinal, só podemos criticar se tivermos algo para criticar. Portanto, planejamos produzir, escrever, criticar, teorizar e contribuir ativamente para o desenvolvimento e reconhecimento dessa expressão arquitetônica. 

 Como você analisa o impacto cultural e político da participação do Brasil na Bienal de Veneza?

 Gabriela de Matos: Quando se trata da Bienal de Veneza, há uma glamourização associada à aura do território europeu. No entanto, existe uma noção da importância dos debates que surgem com os trabalhos apresentados lá. Não sei se todos têm essa compreensão da magnitude desses debates, ou se a maioria das pessoas fica muito focada na glamourização do evento e não presta muita atenção nisso. Essa ênfase na glamourização pode ser frustrante, especialmente quando você está apresentando uma contribuição séria, fundamentada em questões profundas, e não nessa superficialidade. As pessoas têm dificuldade em entender, o que faz você sentir como se estivesse constantemente em um embate para provar a importância do que está sendo discutido. O modo como as coisas são conduzidas precisa seguir um determinado padrão, não há margem para mudanças. Ficamos muito felizes com a presença da ministra da cultura Margareth Menezes na Bienal de Veneza. Afinal, era um pavilhão majoritariamente feito por mulheres negras: curadores, artesãs, o estagiário que era um homem negro, mas o restante eram todas mulheres, inclusive as duas cineastas, predominantemente mulheres negras. O fato de a ministra Margareth ter comparecido coroou a coisa de uma forma perfeita, primeiro porque ela é incrível. Ela tem uma energia incrível. Ela fez uma abertura incrível do pavilhão com um discurso muito bom. Quando Paulo Tavares e eu fizemos o projeto, foi antes da eleição do atual governo, então fizemos num contexto do período de [Jair] Bolsonaro. Escrevemos e reescrevemos esse projeto, sabendo que ele passaria pela Secretaria Especial de Cultura. A retomada do Ministério da Cultura, logo quando começamos a produzir, ocorreu em janeiro do ano passado, em 2023, e posteriormente a abertura feita pela ministra Margareth. Foi uma experiência maravilhosa. Além disso, foi incrível observar a reação do público. Foi realmente gratificante. Após vermos tudo isso, concluímos que todo o esforço empregado no processo para trazer essa exposição da forma como foi, valeu a pena. 

Como você percebe o reconhecimento do prêmio na Bienal?

 Gabriela de Matos: O pós-prêmio foi interessante. Houve toda aquela euforia em torno do prêmio, toda aquela movimentação. Depois que deixei Veneza, tinha alguns outros eventos em outros países já agendados antes da premiação, o que foi bastante interessante, pois me proporcionou um contexto da importância do prêmio. Ganhar o Leão de Ouro não estava nos meus planos. Durante a cerimônia, lembro-me de dizer para o Paulo: “Acredito que temos chances de ganhar isso.” Mas ele não compartilhava da mesma perspectiva. “Gabi, sem chance, sem chance” foi o que Paulo me respondeu durante a premiação. Estávamos completamente desacreditados. Entretanto, ao participar de outros eventos subsequentes, comecei a compreender melhor a importância desse reconhecimento internacional. Foi uma experiência muito enriquecedora para mim [estender a estadia], pois se eu tivesse concluído meu trabalho em Veneza e voltado imediatamente para o Brasil, onde a repercussão do evento foi limitada, talvez eu não compreendesse plenamente a importância desse prêmio. Eu comecei a notar o impacto quando os locais que eu visitava começaram a encher, as pessoas ficaram entusiasmadas e interessadas no que estava acontecendo. Reuniões foram agendadas em várias cidades, em universidades e em outros locais. Consequentemente, minha agenda, que originalmente consistia em palestras pontuais, se expandiu consideravelmente. Após minha volta, no ano passado, após receber o prêmio, viajei para oito países para dar palestras. E este ano já tenho outros compromissos marcados.
  
 Como você vê o papel do poder público, da mídia e dos veículos de comunicação na promoção e valorização de iniciativas culturais e políticas como a sua exposição na Bienal de Veneza? 

 Gabriela de Matos: Hoje, quase um ano depois, percebo como nosso prêmio foi subestimado aqui no Brasil. Acho muito chocante, pois temos veículos de comunicação sérios e comprometidos, interessados no debate sobre a cultura arquitetônica não apenas nacionalmente, mas também internacionalmente, e que compreendem a importância desse diálogo. Para um prêmio como o nosso, conquistado na América do Sul, em um contexto europeu, é necessário um momento de reflexão e discussão. Não é algo que possamos alcançar facilmente; ocorreu porque apresentamos um debate quando as pessoas estavam receptivas e interessadas nele. Portanto, acredito que aproveitamos nossa oportunidade para apresentar essa curadoria não apenas como uma expressão artística, mas também como uma posição política. Ao analisar os outros pavilhões presentes na Bienal de Veneza e os pavilhões brasileiros anteriores, percebemos isso. Mesmo quando alguém escolhe ser omisso em relação ao tempo que representa, essa escolha também é política. Se alguém opta por não abordar nenhum aspecto daquele momento específico, ainda assim está tomando uma posição política. Eu não acredito na neutralidade. Não existe neutralidade. Sempre estamos nos posicionando, mesmo quando não dizemos nada. Nós apresentamos esse trabalho exatamente nesse contexto europeu.
O que me entristeceu foi perceber que, no Brasil, poderíamos ter agido como um “bom território colonizado que somos”, e pelo menos ter considerado: “Bem, então talvez devêssemos analisar essa pesquisa do Paulo e da Gabriela, afinal, eles ganharam um Leão de Ouro! Devemos dar atenção a isso.” Mas não! A dimensão colonial na produção de conhecimento e na mídia brasileira está tão enraizada, tão profundamente arraigada, que preferiu-se ignorar completamente. E há também a questão de que estamos lutando duramente para realizar a exposição aqui no Brasil. Acreditamos que este é o lugar mais importante para sediá-la. 

 *Pedro Rossi é Diretor Cultural do IAB e ex-presidente do IAB/PB; Raquel Freire é Vice-Presidente Extraordinária de Ações Afirmativas do IAB

terça-feira, 5 de março de 2024

Arquiteto japonês Riken Yamamoto recebe o Prêmio Pritzker de Arquitetura 2024

Escrito por Christele Harrouk | Traduzido por Romullo Baratto Publicado em 05 de Março de 2024 O arquiteto japonês Riken Yamamoto foi agraciado com o Prêmio Pritzker de Arquitetura 2024. Conhecido por estabelecer uma “relação de parentesco entre os domínios público e privado" e criar "arquitetura como pano de fundo e também destaque para a vida cotidiana", Yamamoto é o 53º homenageado do mais prestigiado prêmio arquitetura do mundo — e o nono arquiteto do Japão a receber a honraria, juntando-se a Arata Isozaki, Shigeru Ban, Kazuyo Sejima, Ryue Nishizawa, Kenzō Tange, Fumihiko Maki, Toyo Ito e Tadao Ando. Sucessor de David Chipperfield em 2023, Francis Kéré em 2022, e Anne Lacaton e Jean-Philippe Vassal em 2021, Yamamoto receberá prêmio durante a 46ª cerimônia do Prêmio Pritzker em Chicago ainda no primeiro semestre deste ano, e dará uma palestra no S.R. Crown Hall, no Instituto de Tecnologia de Illinois, em 16 de maio. Guardar no Meu ArchDailyArquiteto japonês Riken Yamamoto recebe o Prêmio Pritzker de Arquitetura 2024 - Imagem 5 de 31Nagoya Zokei University. Image Courtesy of Shinkenchiku Sha Uma das coisas que mais precisamos no futuro das cidades é criar, através da arquitetura, condições que multipliquem as oportunidades para as pessoas se reunirem e interagirem. Ao diluir cuidadosamente a fronteira entre público e privado, Yamamoto contribui positivamente para além do escopo, possibilitando o encontro da comunidade. Ele é um arquiteto tranquilizador que traz dignidade para a vida cotidiana. A normalidade se torna extraordinária. A calma leva ao esplendor. — Alejandro Aravena, Presidente do Júri e vencedor do Prêmio Pritzker 2016. https://www.archdaily.com.br/br/1014068/arquiteto-japones-riken-yamamoto-recebe-o-premio-pritzker-de-arquitetura-2024

sábado, 2 de março de 2024

4ª Conferência Nacional de Cultura (CNC)

A capital federal vai sediar a 4ª Conferência Nacional de Cultura (CNC) entre os dias 4 e 8 de março. O evento, que terá como tema a redemocratização de uma das áreas vitais para o desenvolvimento nacional, acontece no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. Ao todo, o festival terá mais de 3 mil participantes para discutir políticas públicas culturais e estabelecer diretrizes prioritárias para garantir transversalidades nas ações do setor

sexta-feira, 1 de março de 2024

Aprovação de Manifesto a ser levado à 4ª CNC - Conferência Nacional de Cultura

Em reunião preparatória para a 4ª Conferência Nacional de Cultura - CNC, que ocorreu em 27/02, foi aprovado que a Direção Nacional ficaria encarregada de editar e consolidar um manifesto para distribuição durante a CNC. O documento teve como base o texto intitulado "IAB na Cultura Brasileira", elaborado por Vera França e Leite e Luiz Sarmento, e levou em consideração as observações e intervenções dos conselheiros presentes na reunião. ARQUITETURA É CULTURA! MANIFESTO DO INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL - IAB 4a CONFERÊNCIA NACIONAL DE CULTURA - BRASÍLIA - MARÇO DE 2024 DESAFIOS E POTENCIALIDADES PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE CULTURA A arquitetura é um segmento da cultura em seu sentido mais amplo, possuindo uma especificidade única em relação às demais manifestações artísticas. O interesse pela produção de uma arquitetura de qualidade – e também do urbanismo de qualidade – extrapola o círculo de arquitetos e urbanistas; diz respeito a toda a sociedade. Em março de 2010, durante a 2ª CNC, as discussões abordaram outros campos e, pela primeira vez, a arquitetura foi reconhecida como manifestação da identidade brasileira. Nesse contexto, o Ministério da Cultura reforçou que essa área deveria ser contemplada em suas ações, juntamente com outras instituições que fomentam e apoiam a cultura. No entanto, pouco foi implementado. Inúmeras são as dificuldades para financiar, difundir, popularizar e promover a arquitetura e o urbanismo em todo o país, especialmente quando se trata de obter recursos públicos para essas iniciativas. Os acervos de arquitetura e urbanismo brasileiros sofrem graves riscos devido à escassa existência de instituições dedicadas à sua guarda e divulgação em âmbito nacional, comprometendo seriamente a preservação desse importante patrimônio cultural. A escassez e o baixo investimento em mostras de arquitetura e urbanismo são preocupantes, estando timidamente concentradas nos grandes centros econômicos, o que limita o acesso do grande público a essa forma de arte e expressão. Reconhecer o potencial da arquitetura e do urbanismo como importantes instrumentos de fomento econômico, cultural e científico é fundamental. Eles não apenas fortalecem o ensino e a pesquisa, mas também contribuem significativamente para a geração de emprego e renda em diversas comunidades. Além disso, é essencial destacar que a arquitetura não se limita apenas à técnica; também considera os fatores históricos, especialmente os saberes populares e ancestrais, que envolvem essa prática. A arquitetura brasileira é celebrada mundialmente; no entanto, a falta de reconhecimento interno como manifestação cultural e o crescente interesse internacional por nossa produção também trazem desafios. A transferência de importantes coleções para instituições no exterior resulta em perdas irreparáveis para nosso patrimônio cultural. Cabe destacar que, no atual Plano Nacional de Cultura (PNC) e na regulamentação da Lei Rouanet, a arquitetura muitas vezes é compreendida apenas como patrimônio histórico e infraestrutura, deixando de lado sua dimensão social, cultural e artística. Essa visão limitada precisa ser revista para garantir uma promoção mais abrangente e inclusiva da arquitetura brasileira. iab.org.br @iab_brasil É INDISPENSÁVEL REAFIRMAR A ARQUITETURA E O URBANISMO COMO ELEMENTOS ESSENCIAIS DA CULTURA BRASILEIRA. É PRECISO VALORIZAR ESSAS FORMAS DE EXPRESSÃO COMO PARTE INTEGRANTE DA IDENTIDADE NACIONAL! PROPOSTAS IMEDIATAS PARA O PLANO NACIONAL DE CULTURA ● Pela instituição de uma linha de fomento para exposições, publicações, encontros e premiações de arquitetura e urbanismo no Plano Nacional de Cultura (PNC) e, consequentemente, pela regulamentação da Lei Rouanet e de outras normativas para democratização dos recursos investidos em cultura. ● Pela inclusão de diretrizes voltadas à salvaguarda de acervos de arquitetura e urbanismo, com uma política específica para esses bens. ● Pela criação de um Museu de Arquitetura e Urbanismo no Brasil - fruto de concurso público de arquitetura - para proporcionar condições de acolhimento de acervos, enfrentar a saída dessas coleções e possibilitar a exposição a uma parcela maior e mais diversa da população, seguindo o exemplo de outras manifestações culturais. ● Pela institucionalização de centros culturais descentralizados em todo o território brasileiro, visando promover a divulgação da produção da arquitetura e urbanismo. O INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL Fundado em 1921, o IAB é uma entidade profissional sem fins lucrativos, de livre associação, presente em todas as regiões do país por meio de seus departamentos estaduais. Promove debates e iniciativas em políticas relacionadas à habitação, saneamento, meio ambiente, urbanismo, ordenamento territorial e preservação do patrimônio cultural. Ao longo de mais de um século, o IAB vem realizando atividades de divulgação da arquitetura brasileira, incluindo concursos, exposições e premiações, como a Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo e os Congressos Brasileiros de Arquitetos. Destaca-se por sua defesa da democracia e liberdade, reconhecendo o trabalho dos arquitetos e urbanistas como instrumento de transformação social. iab.org.br @iab_brasil

"Patrimônio arquitetônico: conhecer para preservar"

                                                   CAFÉ & ARQUITETURA&URBANISMO Arquiteta e urbanista Juliana Junqueira  Doutora em ...